Entre
bancos e praças
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Durante um ano, todos os dias
da semana, elas transportaram malotes com fichas e cadernos, com anotações próprias
e de outros colegas, entre algumas praças, ao longo de uma linha. Partiam da
praça Calcutá para a praça das Nações. E dali seguiam para a praça da Bandeira,
e tomavam o rumo da praça Saens Pena. Levavam malotes e pastas na ida e na
volta, entre as praças. Entre as praças e nas praças podiam observar quantos
bancos haviam. Viram pequenas praças no caminho e a grande praça de São
Cristóvão. Encontraram pedras no caminho e um largo do Pedregulho, passaram
todos os dias por uma cancela, no chamado largo da Cancela. As dificuldades futuras
estavam descritas pelo caminho diário. Haveriam de dar muitas voltas, com
pedras e cancelas pelo caminho. Apostavam nas fichas diretas, não apostavam em
seções intermediárias.
Aplicavam no fundo 634, nos
bancos da Paranapuan, prevendo um bom futuro. E pelas janelas viam o futuro,
mas não se deram conta, que era o filme de suas vidas, que passava pelas
janelas. Por algumas vezes precisaram fazer caminhos diferentes, e foram até a
Leopoldina, onde começa um caminho de trilhos. E os trilhos foram parar nos
dentes de uma delas. Na Leopoldina poderiam usufruir de outros bancos: 324, 326
e 328, que passariam pelas mesmas e velhas pontes, ligando ilhas ao continente.
Nos finais de semana, era a
hora da compensação pelo esforço da semana. Trocavam cartas e desafios, taças e
copos, conversas e pernas, cheques e boletos. Entre copos e taças percorriam as
praças mais próximas, como Cocotá e Jerusalém, ainda não havia praça no
shopping. Buscavam o caminho das sendas, do mar e da terra. Tomavam sorvetes
sem nomes. Frequentavam vales próximos; o das Cocotas e dos Cornos, não
chegavam ao Banamares, diziam ser muito RPM (Ramos, Penha e Madureira), e era para
os que aplicavam nos bancos do 910. E o cheiro dos cachorros quentes preparados
na rua, não condizia com suas novas vidas de tijucanas, o delírio das insulanas.
Estavam ficando serelepes.
Depois de tantos transportes e
tantos malotes, seguiram rumos diferentes. Uma foi para a escola de Mendel e a
outra foi para a escola de Vitrúvio. Arquitetaram e criaram uma diversidade de
plantas, em papeis e vegetais, com bicos, penas e nanquim. As duas aprenderam a
lidar com plantas, e fizeram planos para uma boa colheita.
Fizeram promessas para Maria e
para Fátima, como fieis seguidoras, das que seguiam seus nomes. Uma escolheu o
caminho da piedade e a outra o caminho do bom sucesso. Passaram para a
universidade da Grana Firme e para a faculdade do Silvio & Santos.
Terminaram seus cursos e colocaram seus conhecimentos a prova no mercado. Deixaram
o capital de seus conhecimentos abertos, para empresários e investidores. Fizeram
uma pesquisa de mercado. Abriram escritório e foram para a Marinha.
Mas o destino quis que não
seguissem carreira nos cursos escolhidos, e sim que fossem trabalhar em bancos.
Era o destino que viam de uma janela todos os dias, batendo agora em suas
portas. Uma foi para o banco da pedra e a outra para um banco do pais. Um
privado e o outro estatal, ainda que também estivessem lotadas em praças
diferentes. E assim seguiram suas vidas, sentadas e alocadas em bancos, os
bancos das praças que viam todos os dias. Entregaram suas vidas aos bancos, que
consumiram seus extratos, usaram de seus conhecimentos brutos e líquidos.
Diferente de suas profissões, os bancos poderiam ter mais liquidez, como
resposta ao saldo bancário no final do mês.
E o destino agora novamente as
chamou, para sentar em um banco de uma praça, participarem de um mesmo banco. A
praça do início da linha de investimentos e aplicações, e ali sentaram em um
banco da praça Calcutá para revirar suas bolsas, rever e ver o que tinham nas
carteiras. Ali puderam falar de seus cheques devolvidos e de suas contas
encerradas ao longo de uma vida investida. Mostraram extratos vermelhos e
espelhos. Compararam holerites e contracheques. Ultrapassaram seus limites.
Precisam de novas linhas de credito, para novos investimentos.
Estavam de volta a mesma praça
com outras flores e outros jardins. E do mesmo banco que estavam naquele
momento, avistaram uma fila de 634s, com filas de clientes. E lembraram das
filas no dia a dia em um banco. A praça ainda é segura durante o expediente
bancário. Fora isto não há segurança e nem banco 24h.
Encontraram-se na praça que um
dia, antes de Calcutá, foi chamada de Carmela Dutra, mas até hoje não mudou a
sua Freguesia, e ainda mantem a mesma paroquia de N. S da Ajuda, que pode mudar
os rumos de suas vidas, oferecendo novos créditos e debentures, adquirindo
novas obrigações de investimentos futuros.
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