terça-feira, 24 de maio de 2016

Entre bancos e praças


Entre bancos e praças



PDF 646



Durante um ano, todos os dias da semana, elas transportaram malotes com fichas e cadernos, com anotações próprias e de outros colegas, entre algumas praças, ao longo de uma linha. Partiam da praça Calcutá para a praça das Nações. E dali seguiam para a praça da Bandeira, e tomavam o rumo da praça Saens Pena. Levavam malotes e pastas na ida e na volta, entre as praças. Entre as praças e nas praças podiam observar quantos bancos haviam. Viram pequenas praças no caminho e a grande praça de São Cristóvão. Encontraram pedras no caminho e um largo do Pedregulho, passaram todos os dias por uma cancela, no chamado largo da Cancela. As dificuldades futuras estavam descritas pelo caminho diário. Haveriam de dar muitas voltas, com pedras e cancelas pelo caminho. Apostavam nas fichas diretas, não apostavam em seções intermediárias.

Aplicavam no fundo 634, nos bancos da Paranapuan, prevendo um bom futuro. E pelas janelas viam o futuro, mas não se deram conta, que era o filme de suas vidas, que passava pelas janelas. Por algumas vezes precisaram fazer caminhos diferentes, e foram até a Leopoldina, onde começa um caminho de trilhos. E os trilhos foram parar nos dentes de uma delas. Na Leopoldina poderiam usufruir de outros bancos: 324, 326 e 328, que passariam pelas mesmas e velhas pontes, ligando ilhas ao continente.

Nos finais de semana, era a hora da compensação pelo esforço da semana. Trocavam cartas e desafios, taças e copos, conversas e pernas, cheques e boletos. Entre copos e taças percorriam as praças mais próximas, como Cocotá e Jerusalém, ainda não havia praça no shopping. Buscavam o caminho das sendas, do mar e da terra. Tomavam sorvetes sem nomes. Frequentavam vales próximos; o das Cocotas e dos Cornos, não chegavam ao Banamares, diziam ser muito RPM (Ramos, Penha e Madureira), e era para os que aplicavam nos bancos do 910. E o cheiro dos cachorros quentes preparados na rua, não condizia com suas novas vidas de tijucanas, o delírio das insulanas. Estavam ficando serelepes.

Depois de tantos transportes e tantos malotes, seguiram rumos diferentes. Uma foi para a escola de Mendel e a outra foi para a escola de Vitrúvio. Arquitetaram e criaram uma diversidade de plantas, em papeis e vegetais, com bicos, penas e nanquim. As duas aprenderam a lidar com plantas, e fizeram planos para uma boa colheita.

Fizeram promessas para Maria e para Fátima, como fieis seguidoras, das que seguiam seus nomes. Uma escolheu o caminho da piedade e a outra o caminho do bom sucesso. Passaram para a universidade da Grana Firme e para a faculdade do Silvio & Santos. Terminaram seus cursos e colocaram seus conhecimentos a prova no mercado. Deixaram o capital de seus conhecimentos abertos, para empresários e investidores. Fizeram uma pesquisa de mercado. Abriram escritório e foram para a Marinha.

Mas o destino quis que não seguissem carreira nos cursos escolhidos, e sim que fossem trabalhar em bancos. Era o destino que viam de uma janela todos os dias, batendo agora em suas portas. Uma foi para o banco da pedra e a outra para um banco do pais. Um privado e o outro estatal, ainda que também estivessem lotadas em praças diferentes. E assim seguiram suas vidas, sentadas e alocadas em bancos, os bancos das praças que viam todos os dias. Entregaram suas vidas aos bancos, que consumiram seus extratos, usaram de seus conhecimentos brutos e líquidos. Diferente de suas profissões, os bancos poderiam ter mais liquidez, como resposta ao saldo bancário no final do mês.

E o destino agora novamente as chamou, para sentar em um banco de uma praça, participarem de um mesmo banco. A praça do início da linha de investimentos e aplicações, e ali sentaram em um banco da praça Calcutá para revirar suas bolsas, rever e ver o que tinham nas carteiras. Ali puderam falar de seus cheques devolvidos e de suas contas encerradas ao longo de uma vida investida. Mostraram extratos vermelhos e espelhos. Compararam holerites e contracheques. Ultrapassaram seus limites. Precisam de novas linhas de credito, para novos investimentos.

Estavam de volta a mesma praça com outras flores e outros jardins. E do mesmo banco que estavam naquele momento, avistaram uma fila de 634s, com filas de clientes. E lembraram das filas no dia a dia em um banco. A praça ainda é segura durante o expediente bancário. Fora isto não há segurança e nem banco 24h.

Encontraram-se na praça que um dia, antes de Calcutá, foi chamada de Carmela Dutra, mas até hoje não mudou a sua Freguesia, e ainda mantem a mesma paroquia de N. S da Ajuda, que pode mudar os rumos de suas vidas, oferecendo novos créditos e debentures, adquirindo novas obrigações de investimentos futuros.



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por

Roberto Cardoso (Maracajá)




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24/05/16


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